domingo, 31 de janeiro de 2010

Eighteen.

E enfim, você chegou aos dezoito.
Às vezes sei que queria voltar no tempo, para a época onde seus sonhos eram completamente possíveis e reais, no seu mundo, e na sua visão perfeita de tudo à sua volta. Mas também sei que gosta de todo o realismo que te cerca,de todo o racionalismo com que vive, e das loucuras que comete de vez em quando. Sim,sei que comete loucuras,que perde o fôlego de tanta alegria e que se lamenta e chora também,apesar de sempre manter as aparências,e você aparenta tanta maturidade agora;olho pra você e consigo ver refletido nos olhos de uma garota a sabedoria de uma mulher.E afinal,você sabe o que quer.No fundo do teu ser,da tua alma,do teu coração,você sempre sabe.E você esconde e guarda,e fala baixinho pro seu travesseiro guardar segredo dos teus planos para que eles possam dar certo,e que você consiga seu carro zero,seu apartamento no meio do caos paulistano,sua casa na praia calma para passar férias,e a alegria,o amor,a felicidade que quer e que deseja todos os dias quando acorda,para si,e para os outros.Seu altruísmo me surpreende,tanto que eu queria ser assim o tempo todo.Mas ah,como sou egoísta também.E sou chata,teimosa,exigente.Orgulhosa.Apesar de contar pra você aqui o que eu mais queria extinguir em mim,sou orgulhosa.Eu me importo tanto com determinadas coisas,sempre,quase sempre,todos os dias,mas eu jamais te contaria com o que/quem/porque;te mataria se o fizesse.Te admiro tanto por se deixar sentir amor,felicidade,alegria.E me admiro tanto também,por não me perder entre as ruas e avenidas das minhas insanidades devido à isso...
Sim,eu me admiro;me amo.Acordo,olho no espelho,e com a cara mais inchada do mundo,eu digo : Ei,você está ridícula.Mas,acredite,eu ainda te amo.E aquela amiguinha do espelho sorri tão feliz pra mim que eu ás vezes acho que ela é uma boba.Ela sempre sorri,é incrível.Sorri pros passarinhos da rua,pros bebês que vê passar,pro dono da padaria e pra velinha regando as plantas,solitária,no dia ensolarado,chuvoso,frio ou calor.Ela nunca esquece de sorrir.Não sei como consegue;Eu digo pra ela parar com isso,mas é tão involuntário;ela nunca me ouve;aliás,só ás vezes;se parece tanto com você...
Dezoito anos não muda muita coisa na sua vida.
Você vai poder tomar decisões,mas o que isso tem de novo?Sempre teve a mania de tomá-las sozinha.Ouvia opiniões,mas sempre ia de acordo com as tuas vontades;você sempre foi tão decidida.
Vai poder perambular pelas ruas da cidade,num veículo automotor,mas o que isso tem de novo também?Desde pequena não desgrudava do pescoço do teu pai,e ia com ele para todos os lugares também,seja de carro,andando,no pescoço ou só de mãos dadas,você ia feliz e sorridente (sim,isso vem de cedo),contando as pedrinhas da rua e fazendo tchau pros passarinhos.
Vai poder ser presa,mas isso também não é novo.Você sempre viveu tão presa as coisas;ao passado,as lembranças,as opiniões próprias...e eu sempre digo para você soltar as amarras e ir de encontro ao desconhecido.Às vezes você me ouve,e ás vezes até acha que eu sou a responsável por isso.Acredite,eu não sou.Apesar de ser racional como sou,isso não faz parte de mim.É irracional ser assim,viver assim,desejar,querer,pretender assim.Não há evolução,crescimento,fortalecimento com isso,e mesmo que você seja evoluída,grande (não no sentido literal),e forte,ainda precisa aprender que se livrar de algumas coisas;isso te fará ser melhor.
Vai poder entrar no supermercado e com a maior cara de alegria,mostrar o documento de identidade para a moça do caixa e dizer : 'ei,querida,eu tenho 18 anos,agora eu posso.' E vai consumir o que comprar,e se perder de mim.Pelo menos uma vez,vai se perder de mim.Ok,eu até queria que isso um dia acontecesse,só para descrever como você estava,mas você me cansa tanto com essa sua parte correta que eu nem discuto mais com você.Porque você me cansa mesmo.Incrível como você discute comigo.Briga tanto.Quer me expulsar de você,quando sou eu que faço as coisas andarem.Acorda,meu bem,você quem me acostumou assim,e eu já criei raízes dentro de você;não tente me expulsar pra sempre agora,eu sou teimosa.E você indecisa.Me contradigo agora com o que disse pouco antes,mas você é tão indecisa ás vezes.Ora,me manda embora,ora,quer só à mim dentro de você.Sério,eu sou também muito paciente,senão te deixaria aí,com todo o seu sentimentalismo barato vivendo de desilusões.
Porém...essas são mudanças que não acontecerão...mas certamente,algo vai mudar.
Dentro de ti,principalmente.
Digamos que algumas coisas irão retornar.
Teus sonhos parecerão possíveis novamente,apesar de eles terem mudado.
E você voltará a acreditar em si mesma,e na sua capacidade de realizá-los.
E voltará a querer,a sentir e se deixar sentir.
Desfrutará de novas experiências, e aprenderá com elas.Irá aprender a sobreviver num mundo que não é perfeito,mas que você o fará se assim desejar;irá viver,muita mais do que sobreviver.
Irá acreditar em mim,e me ouvir como sempre o fez,e eu vou te mandar não me dar ouvidos quando perceber que você está fazendo tudo errado,porque você vai acertar.Vai errar muitas vezes também.Vai cair,se lamentar,e logo em seguida,levantar.E fará tudo outra vez,diferente,seguindo teus princípios mais sensatos,teu altruísmo,e tua capacidade de tornar real aquilo que sonha.
Enfim,você chegou aos dezoito.
E eu nada mais poderia desejar-lhe do que tudo isto.
Quero que seja assim,e que mude se achar necessário,conveniente,e melhor para si e para os outros.
Que cresça,que aprenda,que viva.
E que nunca se perca de mim,e que se um dia não saber mais quem é,me procure.Eu te direi.Eu te mostrarei.Eu te ajudarei a se encontrar novamente.E estarei sempre dentro de ti.


com amor,Jéssica.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Querida Molly,

Isso vai soar um pouco estranho. Mas, quero que você pinte a antiga porta do meu armário. Porque não vai haver outro tempo em que você será mais honesta, em que suas convicções serão mais fortes, ou em que os seus motivos serão mais puros do que são agora. O que significa que deveria ir atrás de qualquer coisa que te empolgue.
Seja confiante, corra riscos.
E pinte por cima destas palavras para começar a escrever as suas próprias. Minha história pode ter inspirado você. Mas a sua pode inspirar a próxima garota que morar no nosso quarto. Quero que você saiba que não é preciso que alguém escreva sobre a sua vida para ela ter algum sentido.
Você pode escrever sobre si mesma, trace seu próprio destino.
E então, daqui a alguns anos, a próxima garota vai manter o que você escreveu tempo suficiente para te lembrar do quão inspirada a sua vida é. E você pode dizer para aquela garota pintar a porta novamente. Porque você percebe que as palavras que escreveu, os amigos que teve, a urgência que sentiu, sempre estarão por baixo da tinta.
O amor que você professou sempre vai estar lá, a faísca de algo inegável. Veja a esperança, a verdade, nas horas boas e ruins,correndo firmemente abaixo da superfície.

Com amor,Peyton.



*-*

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

And I never let you go...

Hoje acordei disposta a lembrar.
Cansei daquele papo 'impedida de lembrar,com medo de esquecer' : é tão mimimi e nunca eficaz,e acredite,não melhora a vida.Lutar contra lembranças é algo cansativo, até mais do que a minha corrida matinal diária que faço pensando em quantas vezes quero passar na tua frente e te fazer querer correr atrás de mim,ou pra mim se preferir - também não seria nada mal.
O fato é que eu cansei de te expulsar,até porque a sua teimosia consegue ser maior que a de uma porta,e desconfio ainda que esta me ouve de fato,porém,contudo,no entanto,eu ainda te prefiro.Seria menos complicado preferir a porta da minha casa,é verdade;ela não iria me contrariar,nem me irritar,nem fazer caras e bocas enquanto falo.Mas eu logo me cansaria,antes até de ela se cansar de mim,porque de fato ela é bem paciente.Aguenta tudo a companheira.As vezes que eu a bati na sua cara,e que você cansava tuas mãos - que são minha paixão enrustida - de tanto esmurra-la pedindo pra que eu voltasse.E eu sempre voltava.Te chingando e te odiando de todas as formas possíveis,e te mandando sumir da minha vida.Sorte a minha que você nunca me ouviu,como sempre.Sorte a nossa,que havia uma porta e ela sempre esteve aberta,tanto à sua quanto a minha,mesmo quando insistimos em dizer que esta foi trancada e a chave jogada fora.Ah,e como - em certos momentos -  eu queria fazer isso,e até mesmo LHE jogar fora e te mandar pra recliclagem.Te tornar melhor pra humanidade e não causador de problemas ambientais no mundo,no meu mundo,porque você acaba com o meu ambiente,todos,sem excessão.
Você me degrada tanto,e eu gasto todas as minhas fontes de energia,renováveis ou não,pensando em você,querendo você,e não admitindo nada disso pra mim,nem pra você.Nem pra a porta da minha casa que é a nossa maior testemunha.A porta que por tantas vezes eu também fechei e não te deixei ir embora.E que você também fechou dizendo que não voltaria mais,e logo depois voltou,me jurando ódio eterno e me enchendo de beijos e sorrisos.
A minha porta já até aprendeu a sorrir,de tanto que eu sorrio pra ela depois que você a fecha quando vai pra tua casa. Para a porta,para os sofás,para o computador. Para as paredes,para as flores,para as lembranças.Então pela última vez no dia eu a abro,e olho você ir,e exatamente na esquina você pára o carro e abre o vidro,olha pra trás me fazendo recordar a cena típica,e eu sorrio como sempre faço em todas elas,um sorriso equivalente a um dia inteiro do seu lado,sorrindo.E você se vai,e eu fecho a minha porta.Da casa,das lembranças,dos planos,mas deixando a porta da minha vida permanentemente aberta pra você;ela não possue trancas,só uma maçaneta do lado de fora,que só você poderia fechar,mas não quer.Não quer e não faz,assim como eu não faço com a tua.Nunca farei,porque eu nunca vou sair da sua vida,nem que num momento de total insanidade você me permitisse fazer isso;você nunca deixa: me prende à você com tamanha covardia,e eu nem sinto vontade de fugir de você.Só COM você,para fora do meu escudo de proteção,da minha casca de indiferença,e da minha própria porta.Fugir pra vida,pra sua vida,ou até pra nossa.Fugir para nossa singularidade,para fundir duas dissertações formando outras tantas várias,com capítulos,partes,e tantas vírgulas,mas nunca com um ponto final,porque,afinal de contas,o meu sempre será você.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Three minutes.

[...]

Bato.
Ninguém atende.
De novo,aperto o punho,mas,quando estou prestes a bater na porta mais uma vez,um estalo vem do corredor, e a voz cansada da Audrey sai através das frestas.
- Esqueceu alguma... - a voz dela se projeta.
- Sou eu - digo.
- Ed?
- É.
- O que você tá...
Minha camisa parece até concreto. Estou usando jeans de madeira,meias de lixa e sapatos de bigorna.
- Tô aqui por você - digo bem baixinho.
Audrey, a menina,a mulher, está usando uma camisola cor-de-rosa.
Ela abre a porta e pára ali, descalça, espantando o sono dos olhos com os punhos. Ela me lembra aquela menininha, Angelina.
Pego em sua mão bem devagar e trago pra fora. O peso já saiu de mim e agora somos só nós dois. Coloco o toca-fitas no jardim cheio de cascas, me abaixo e aperto o play.
A princípio, um ruído de estática paira no ar. Então começa a música e ouvimos o desespero lento, quieto e doce de uma canção que não vou dizer qual é. Imagine a canção mais bonita, mais suave, mais forte que você conhece, e vai ter uma idéia. [ John Mayer - Daughters.] Respiramos o som e nossos olhos se encontram.
- Ed,o que...
- Shh.
Eu a envolvo agora, passando os braços pelos seus quadris e ela me abraça também.
Coloca a mão em volta do meu pescoço e descança a cabeça no meu ombro. Sinto o cheiro dela,e minha única esperança é de que ela sinto o cheiro do amor em mim.
A música abaixa.
A voz aumenta.
Mais uma vez, é a música de copas, a música dos corações - só que bem melhor desta vez - e a gente dança; a respiração dela se acomoda no meu pescoço.
Então eu a solto e a giro bem devagar.Quando retorna,ela dá um beijinho no meu pescoço.
Dá vontade de dizer : 'Eu te amo',mas não é preciso.
[...]
Acho que dançamos por três minutos.
Três minutos pra dizer que eu a amo.
Três minutos pra ela admitir que me ama também.
Ela me diz quando nos soltamos um do outro,mas nenhuma palavra de amor sai de sua boca. Ela só meio que pisca o olho pra mim e diz :
- Quem diria,Ed Kennedy,hein?
Dou um sorriso.
Ela aponta pra mim e diz :
- Mas só você mesmo,né?
- É - concordo. Olho os pés descalços da Audrey,seus tornozelos,suas cabeças,e vou subindo até seu rosto. Tiro uma foto mental. Seus olhos cansados, cabelo bagunçado cor de palha. O sorriso arranhando de leve seus lábios. As orelhinhas pequenas e o narizinho fino. E os últimos vestígios de amor, estranhamente ainda alí...
Ela se permite me amar por três minutos.
Será que três minutos podem durar pra sempre?,eu me pegunto,mas já sabendo a resposta.
Provavelmente não,respondo. Mas talvez durem tempo suficiente.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Coração,desejo e sina.

Eu percebi que gostar muda completamente as coisas.
Quase sempre gosto de coisas que não imaginaria gostar,e gosto.
Gosto do seu sentimentalismo,dos seus dramas,da sua preocupação.
Gosto das suas demonstrações de afeto,das suas crises de saudade,e das conversinhas baratas que você usa pra me convencer que eu sou única.
Gosto de tudo,até do seu ciúmes bobo.
Gosto loucamente da sua voz ao telefone,dizendo que discou um número errado e caiu no meu,e que ainda assim prolonga a conversa por mais uma hora.
Gosto do cheiro da chuva porque me lembra a paz que me dá ouvi-la cair,paz esta que pode ser comparada ao seu abraço disparador de corações em mim.
Gosto de gostar dos seus planos futuros,mesmo que um destes seja encher minha casa de instrumentos musicais - enquanto eu pretendo abarrota-la de livros - .
Gosto de pensar o quanto queria você por perto,e de imaginar como isto seria,e de saber que você quer o mesmo,inclusive quando discute com seu coração teimoso por ele bater irregular ao cruzar seu olhar com o meu.
E você vai acabar com seu salário no posto de gasolina,enchendo o tanque do seu carro pra ir me ver quando eu mudar de cidade.E eu vou gostar,e eu vou amar cada segundo que você estiver por perto,e vou continuar amando com você longe.E vou te apresentar pra minha mãe pela segunda vez,pra ela te mimar tanto,de um jeito que só ela consegue.Vou testar sua paciência nos meus dias deprimentes,e fazer você me amar do mesmo jeito quando eles passarem.Vou gostar do seu romantismo,mesmo querendo jogar as flores em você quando,um dia,você enviá-las para o meu escritório,só pra deixar meu dia mais florido.
E quando tudo for mais simples e fácil,e eu cansar de fazer parte da massa da sociedade escrava da comodidade,eu vou correr até você.Pra você.Vou ver seu sorriso ao invés de imaginá-lo somente,e apertar as suas bochechas quando você fizer bico em função dos teus dramas.E te abraçar todas as vezes que eu tiver vontade,precisar e quiser.E te dizer mil vezes o quanto você me ama e o quanto se enganou querendo acreditar por tanto tempo no contrário.E vou dizer mil vezes que é recíproco,até você acreditar,desacreditar,gargalhar,me abraçar e girar e dizer que o que mais gosta é de olhar nos meus olhos e os verem brilhar,iluminados pelo meu sorriso que nunca saiu da sua memória.
E eu vou gostar de cada pedacinho seu,e de cada pedacinho nosso que eu gosto desde já.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

When iI find you in my dreams...

Ao abrir os olhos,percebeu que não reconhecia o lugar.
Era mágico.
O canto dos pássaros ecoava em seus ouvidos,e o cheiro de flor era predominante em todo canto do lugar.O sol aquecia,o vento lhe tocava os cabelos,e tudo que podia sentir era a paz que tudo aquilo transmitia.
O viu.
Seu coração palpitou irregularmente como sempre acontecia ao vê-lo.
Nada precisava ser dito.
Correu em sua direção,jogando-se em seus braços sem pensar em mais nada.Queria apenas dizer o quanto se importava,o quanto ele lhe era necessário,e o quanto sentia sua falta;não disse.Em determinadas situações,as palavras se tornam completamente desnecessárias.
Andaram de mãos dadas por um longo jardim,e enquanto o vento tocava seus cabelos ele a admirava com olhos de uma ternura incomum,enquanto colocava uma flor rosa de pétalas peroladas por entre os fios de seu cabelo loiro,a arrumando da maneira mais graciosa.
A medida que andavam,o local,a paisagem,e os elementos que a compunham mudavam.Passaram por uma praia de água azul cristalina para onde haviam viajado,pelo parque onde corriam juntos todas as manhãs,pelo barzinho que sempre frequentavam juntos,pelo lugar onde foi pedida em casamento;pela igreja onde se casaram,pela portão do colégio onde paravam sempre juntos,esperando seus filhos depois da aula;pela casa na praia que haviam comprado,pelo apartamento que haviam também conseguido juntos.Passaram pelo inverno,primavera,verão e outono.Passaram pelo banquinho da praça onde sentavam juntos de mãos dadas,aquelas mãos cheias de marcas causadas pelo tempo,depois de anos de vida,JUNTOS.Então voltaram ao local de início,sem ter dito uma palavra sequer.
Ela olhou bem fundo em seus olhos,e mesmo que tudo ao seu redor desaparecesse cada vez que o fazia e ela perdesse o controle de suas ações,ainda assim conseguiu mexer os lábios para pronunciar algumas palavras.Porém,seus dedos tocaram de leve sua boca,pedindo silêncio.
Ela o fez.
Tocou-lhe a face,e em seguida passou as mãos por seus olhos,como num pedido para que os fechasse.
Ela também o fez.
Tocou-lhe os cabelos como sempre gostava de fazer,e com seus dedos percorreu-lhe todo o contorno de sua face,descendo numa linha irregular até chegar ao coração.Parou alí.
Sentiu a sua pulsação irregular,o que lhe resultou num sorriso.
Aproximou-se até estar bem próximo,o bastante para poder dizer bem baixinho em seu ouvido:
- Eu estarei sempre com você,em qualquer lugar.Eu te amo.

[...]


Abriu os olhos.
Reconheceu o lugar.
Seu quarto parecia minimamente pequeno agora,este que sempre foi seu lugar preferido.
Era sufocante,perturbador.
Sentiu uma leve brisa tocando seu rosto,e sentiu o perfume.
Era mágico,era único,era o dele.
Olhou para o lado.
A persiana permaneceu aberta a noite toda,e já era de manhã.
Abriu a janela,nada encontrou;então era mesmo real.Preferia que não fosse,assim como o sonho que teve,assim como todos os planos que havia feito.A praia,o barzinho,a igreja,a escola dos filhos.Tudo exatamente e milimetricamente igual,e tão impossivelmente distante agora.
Ouviu a campainha.
Nem ao menos se importou com a roupa que estava vestindo.
Ao atender a porta,não havia ninguém do outro lado.Pisou em seu tapete de boas-vindas do lado de fora,e procurou.Nada.
Fechou os olhos e abaixou a cabeça,e logo em seguida ouviu o barulho de algo muito leve pousando sobre o chão.Quando os abriu novamente,lá estava:a flor rosa de pétalas peroladas.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Three.

Três.
Eu sempre gostei desse número.
Não tanto quanto me simpatizo com o 'dois',e ele não traz sorte como o 'sete',assim como falam.
Ou será que sim?
Se você analisar pelo tempo que normalmente se leva para cursar o ensino médio,passa a encarar o número três como o mais importante da sua vida.
Faltam TRÊS dias para a minha formatura.Ok,eu não serei uma formanda,mas mesmo assim,esse fato me faz pensar no quanto as coisas mudaram nos últimos TRÊS anos.
O que no início era algo totalmente desconhecido,depois de alguns poucos meses,passou a ser vital.
A imensidão daquele ambiente escolar à principio era assustadora,assim como a quantidade de pessoas desconhecidas por metro quadrado.Pessoas de todos os tipos,todos os gêneros,todas as cores,todos os estilos,e de tantos lugares diferentes.
Cada um com uma história diferente até então,e que juntos formaram a parte mais importante da minha vida.
O ensino médio é a época mais inesquecível.
Descobre-se,conhece-se,apaixona-se,decide-se,confunde-se,APRENDE-SE,vive-se.
Entramos no primeiro ano como crianças ingênuas,sem tantos planos,e sem a plenitude de idéias que possuímos agora.A convivência,a experiência,e a aceitação do outro como seu total oposto torna mais ampla a capacidade de cada um de conviver,e de viver,e principalmente,de ser melhor.
Hoje sou composta de experiências que ob[tive] nesses três anos,e não consigo me lembrar de nada mais perfeito do que isto,esta fase da minha vida,com todos os problemas adolescentes impossíveis que eu ví aparecer,e que julguei que nunca conseguiria superá-los,com todas as noites de sono perdidas pra estudar pras provas do dia seguinte,com todas as colas compartilhadas,os trabalhos feitos de última hora,os deveres copiados no dia da entrega;com todos os micos,todas as piadas,todas as músicas mais ridículas cantada na sala de aula,e que tanto alegravam as minhas manhãs;com todas as briguinhas,discussões,desentendimentos;com todas as lágrimas,momentos únicos,pedágios,trotes,inícios de ano cheios de ansiedade e curiosidade para saber os novos alunos;com os novos amigos,e a permanência dos antigos;com as separações,e a descoberta de que 'sempre cabe mais um' dentro do clã da bagunça,dos nerds,dos descolados,dos isolados,dos populares,dentro de uma sala nova,de uma escola nova,e do coração de cada um.
Esses três anos não teriam sido tão perfeitos se cada pessoa não abrisse seu coração,sua vida,e sua mente,para acolher idéias,experiências,e pra colocar pessoas dentro de sí,e carregá-las aonde forem.
São essas pessoas,cada uma delas,que fizeram do meu Ensino Médio a parte mais importante.E são dessas pessoas que eu irei me lembrar.

''Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida! ''

Mesmo os não tão próximos,os que eu nunca falo,os que nunca vejo,os que nem sabem da minha vida,eu os amo,por terem feito parte disso,e do que sou agora,e por me fazerem ter a certeza de que tudo valeu a pena,e também valerá ter um lugar para cada um dentro de mim,mesmo que isso seja aparentemente impossível.

always and forever.