sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Three minutes.

[...]

Bato.
Ninguém atende.
De novo,aperto o punho,mas,quando estou prestes a bater na porta mais uma vez,um estalo vem do corredor, e a voz cansada da Audrey sai através das frestas.
- Esqueceu alguma... - a voz dela se projeta.
- Sou eu - digo.
- Ed?
- É.
- O que você tá...
Minha camisa parece até concreto. Estou usando jeans de madeira,meias de lixa e sapatos de bigorna.
- Tô aqui por você - digo bem baixinho.
Audrey, a menina,a mulher, está usando uma camisola cor-de-rosa.
Ela abre a porta e pára ali, descalça, espantando o sono dos olhos com os punhos. Ela me lembra aquela menininha, Angelina.
Pego em sua mão bem devagar e trago pra fora. O peso já saiu de mim e agora somos só nós dois. Coloco o toca-fitas no jardim cheio de cascas, me abaixo e aperto o play.
A princípio, um ruído de estática paira no ar. Então começa a música e ouvimos o desespero lento, quieto e doce de uma canção que não vou dizer qual é. Imagine a canção mais bonita, mais suave, mais forte que você conhece, e vai ter uma idéia. [ John Mayer - Daughters.] Respiramos o som e nossos olhos se encontram.
- Ed,o que...
- Shh.
Eu a envolvo agora, passando os braços pelos seus quadris e ela me abraça também.
Coloca a mão em volta do meu pescoço e descança a cabeça no meu ombro. Sinto o cheiro dela,e minha única esperança é de que ela sinto o cheiro do amor em mim.
A música abaixa.
A voz aumenta.
Mais uma vez, é a música de copas, a música dos corações - só que bem melhor desta vez - e a gente dança; a respiração dela se acomoda no meu pescoço.
Então eu a solto e a giro bem devagar.Quando retorna,ela dá um beijinho no meu pescoço.
Dá vontade de dizer : 'Eu te amo',mas não é preciso.
[...]
Acho que dançamos por três minutos.
Três minutos pra dizer que eu a amo.
Três minutos pra ela admitir que me ama também.
Ela me diz quando nos soltamos um do outro,mas nenhuma palavra de amor sai de sua boca. Ela só meio que pisca o olho pra mim e diz :
- Quem diria,Ed Kennedy,hein?
Dou um sorriso.
Ela aponta pra mim e diz :
- Mas só você mesmo,né?
- É - concordo. Olho os pés descalços da Audrey,seus tornozelos,suas cabeças,e vou subindo até seu rosto. Tiro uma foto mental. Seus olhos cansados, cabelo bagunçado cor de palha. O sorriso arranhando de leve seus lábios. As orelhinhas pequenas e o narizinho fino. E os últimos vestígios de amor, estranhamente ainda alí...
Ela se permite me amar por três minutos.
Será que três minutos podem durar pra sempre?,eu me pegunto,mas já sabendo a resposta.
Provavelmente não,respondo. Mas talvez durem tempo suficiente.

Nenhum comentário: