quinta-feira, 4 de março de 2010

Um fim antes de qualquer começo.

Comecei a reparar no quanto gastamos nosso precioso tempo de vida nos preocupando em ser a excessão à regra de todas as coisas.
Eu sempre quis a boneca mais bonita,o sapatinho mais rosa,o caderno mais florido e as canetas mais purpurinadas;minha infância sempre foi cheia de 'eu quero mais,quero O mais,quero ser a diferente'.Toda criança é um pouco assim,mesmo vendo que a grama do vizinho sempre parecerá mais verde.O problema (ou solução) é que eu nunca tive a boneca mais bonita,o sapatinho mais rosa,o caderno mais florido e as canetas mais purpurinadas.E eu era feliz com isso.Eu não me aguentava de alegria no primeiro dia de aula,só porque poderia finalmente usar minhas canetas bic super simples,minhas canetinhas e lápis de cor razoáveis e minhas canetas coloridas da lojinha de 1,99 - que tinham uma leve purpurina fajuta - que minha mãe comprava reclamando e dizendo que eu as perderia na semana seguinte.E eu sempre fui feliz com isso.E sempre perdi os lápis,a borracha,as canetas,e sempre fui mais feliz ainda porque roubava todas do meu irmão depois - exceto as canetas ''purpurinadas''.
Eu fazia parte daquela massa da sociedade que tinha tudo do mais simples,e era feliz com isso,e mesmo almejando por coisas grandes,sabia ver na simplicidade algo mais valioso do que os pontinhos brilhantes de uma caneta.Ou de uma pulseira de ouro.Ou de uma vida diferente da que eu tinha.Mas com o tempo,as canetas brilhantes perdem o valor,e você quer brilhar de tantas outras e diversas maneiras.Quer a roupa mais cara,o sapato mais bonito,o carro mais novo,e o amor mais incomparável e único.E perde tanto tempo buscando ser/ter tudo isso,que acaba esquecendo de que fazer parte da regra não é tão ruim assim ás vezes.ÁS VEZES.
Eu sinceramente não gosto muito,mas,refletindo sobre isso,concluí que em um aspecto é geralmente igual para todo [o meu] mundo : no amor.
Esperar ser a excessão entre tantas histórias trágicas que vejo se passando na minha frente,do meu lado,na esquina de casa ou num lugar distante é pura utopia.É engano.É querer algo e querer agora.É acreditar no possível quando não há chances.
No meu mundo de sonhos eu sempre serei a excessão,e meus príncipes sempre chegarão em cavalos brancos e me salvarão de monstros amedrontadores.E isso vai ser a minha razão de felicidade,e o suficiente.
Na minha realidade,eu acordo todos os dias tendo certeza de que eu sou uma regra no NOSSO assunto,e você já ficou bem longe de ser minha excessão.Na verdade,você sempre foi muito a regra.E eu,como todas as pessoas desse universo que gostam do oposto,enxergava excessão em tudo que era proveniente de você,e isso me fazia acreditar cada dia mais que éramos a excessão.Mas não éramos,nem nos deixamos ser.Apenas não passamos de dois burros tentando fazer as coisas direito para daqui há alguns anos olharmos para trás e dizermos : 'eu era a regra,hoje sou a excessão!'
Oh,que hipocrisia,que falta de visão,que engano.
Hoje eu decidi [querer] ser a regra.
Não quero mais tentar colocar diferenciação onde evidentemente sempre será uma mesmisse cansativa.
Você sempre vai me olhar com aquela cara de 'encantamento-misturado-com-uma-vontade-louca-de-me-puxar-pelo-braço-e-dizer-que-eu-sempre-pertenci-a-você',mas vai passar na minha frente como se estivesse desfilando numa passarela de desejos reprimidos que só a gente possui.E eu sempre vou notar todas essas coisas em você,e fingir que odiaria se você fizesse tudo aquilo que sua ''racionalidade'' reprime.E não vou te olhar e desviar logo em seguida só para você não perceber que eu te encontrei,porque,afinal,eu olharia para qualquer cara que eu achasse completamente gato e o deixaria notar isso,por que com você tem que ser diferente?
Eu cansei de ter medo de tudo,e de você,e do que poderia ser da gente,porque afinal,só se tem medo do que causa algum efeito relativamente corrosivo na mente,no coração,na vida,e efeito é algo que você não me causa mais.Aliás,faz muito tempo que essa história se encontra sem 'causa e efeito',tanto que virou monotonia.
E eu,como boa utópica,sonhadora,admiradora da grama do vizinho e HUMANA que sou,quero mais do que isso.Preciso de mais do que isso.E preciso não querer mais te transformar na minha excessão.
Você não é,nem nunca foi.E nós nunca seremos uma também.
E se eu estiver redondamente enganada,que você apareça amanhã com flores na minha porta,dizendo o quando se arrepende,o quanto me espera,e o quanto quer virar a esquininha da sua rua todos os dias novamente,com cara de bobo e sentindo saudades mesmo tendo acabado de me deixar.
Se nós formos a excessão,que eu olhe agora para dentro de mim,das minhas vontades,para o meu celular e para a minha secretária eletrônica e encontre você do jeito mais inusitado e surpreso possível,me desejando boa noite simplesmente por não conseguir dormir sem isso.Se formos uma excessão,você vai estar dentro de mim agora,cutucando meu coração e o fazendo bater mais forte à ponto de querer fugir de mim e correr até a sua cama e ficar ao lado do teu travesseiro,te fazendo ninar ouvindo um 'tum tum' descompassado,mas que sempre soou como música aos teus ouvidos.Quero ter vontade de você de novo,e quero que elas não passem mais.Quero te ver em mim,me ver em você,e ver estampado no rosto de todas as outras pessoas a vontade de ser como a gente,mesmo estando longe de sermos um casal perfeito.
Mas sei que não virá.
As flores não virão amanhã,o telefone não irá tocar,a mensagem não irá chegar,e eu não encontro mais você dentro de mim.
Você foi embora junto com os meus suspiros de raiva e as minhas palavras banais ditas repetidas vezes proferindo o quanto eu não suportava tuas manias insanas e teu jeito meio tonto de agir.
De tanto te expulsar sem que você me ouvisse,eu acabei de tirando de mim sem pedir licença.Eu só tenho pena das outras pessoas que não verão em nós uma vontade de querer se tornar excessão à regra também.
Preciso voltar a ficar contente com os pontinhos brilhantes das canetas coloridas,com o caderno florido,e com a minha vida tão cheia de regras e desfalcada de excessões.
Quero voltar a querer o colo da mamãe a todo instante ao invés de querer o seu,mesmo que só por algumas horas no dia.
Quero de volta a capacidade de brincar com as minhas bonecas sem perna,braço,cabeça,e achar isso o máximo,e voltar a nos achar o mínimo do que pode acontecer de mais prazerosamente memorável na minha vida.
Quero o sorvete comprado na esquina,quero o algodão doce do tio da barraquinha azul cor-de-céu que sempre parava perto de casa quando eu voltava da escola,para esquecer dos restaurantes ótimos que conheci,dos vinhos ótimos que provei,e das cenas mais perfeitas ainda que tenho gravadas na minha mente como se tivessem sido escritas em pedra.
Quero conseguir ser feliz de novo sendo regra,porque de excepcionalidade já me basta tudo que eu quero de novo quando,por ventura ou propositalmente,você decide fazer alguma coisa,e eu por bobeira torno as minhas vontades tão contraditórias.
Eu quero querer tudo isso,sem querer contraditóriamente ver sua cara de sono acordando do meu lado todos os dias pelo resto da vida.E quero querer ainda mais que isso seja verdade amanhã,semana que vem,ano que vem,e até quando a minha vida durar,e não só se tornarem mais algumas centenas de palavras que eu escrevo de madrugada e meu cérebro no seu ritual de limpeza,apaga tudo ao meu fechar de olhos para adormecer,escrevendo tudo diferente.
Não há diferenciação,não há mudanças,não há possibilidades.
Só há eu.
E você.
Agora separados,de fato,por um ponto final - pelo menos até quando minha vocação para sentimentalismo escrita deixar.

Um comentário:

Unknown disse...

Seus textos são FODAS! :D